7.3.08

Maestria 05

Como chegar à Maestria?

Primeira Chave: Instrução

Existem algumas habilidades que você pode desenvolver sozinho, e outras que você pode tentar aprender, mas se tenciona seguir o caminho da mestria, a melhor coisa a fazer é arranjar uma instrução de primeira ordem. O autodidata anda num caminho arriscado. Há vantagens: você tem permissão para não saber o que não pode ser feito; pode enveredar por um território fértil, excluído dos pesquisadores oficiais. Alguns autodidatas – Edison é um deles, Backminster Fuller é outro – fizeram funcionar p autodidatismo. A maioria, porém, passou a vida reinventado a roda e, depois, recusando-se a admitir que ela está fora do eixo. Mesmo aqueles que, um dia, irão pôr abaixo modos convencionais de pensar ou de fazer precisam saber primeiro o que estão derrubando.

A instrução vem de muitas formas. Para dominar a maioria das práticas nada melhor do que estar nas mãos de um mestre, seja em aulas individuais ou em pequenos grupos. Mas há também livros, filmes, gravações, programas de computador, simuladores computadorizados (simuladores de vôo, por exemplo), instrução em grupos, em salas de aula, amigos instruídos, consultores, sócios e até mesmo “a rua”. Ainda assim, o professor ou treinador individual serve de padrão para todas as formas de instrução, o primeiro e mais brilhante farol na jornada da maestria.

A busca de uma boa instrução começa por um exame das credenciais e da linhagem. Quem foi o professor do seu professor? Quem foi o professor desse professor? E assim pó diante, até o tempo imemorial onde a identidade individual desaparece no mito dos primórdios. Estas talvez sejam indagações estranhas para uma era que deixou os elos da linhagem quase que completamente soltos, mas, não obstante, são boas indagações. (Até as gravações, os livros e os programas de computadores têm antepassados.)

O respeito às credenciais, no entanto, não deve invalidar outras considerações. O instrutor que anuncia ser detentor de faixa preta de oitavo grau numa arte marcial, de nono grau em outra, e campeão mundial dos pesos médios leves em ambas, pode ser um péssimo professor. John McEnroe poderá vir a ser, daqui a alguns anos, um soberbo instrutor de tênis – ou poderá não ser nada disso. As táticas de ensino de um laureado detentor do prêmio Nobel podem ser um veneno para a mente de um físico neófito. É, de fato, um desafio muito essencial para um atleta superior tornar-se um grande professor. A instrução exige uma certa humildade; no melhor dos casos, o professor se delicia ao ver-se ultrapassado pelos alunos. O treinador de ginástica Bella Karole ver-se-ia em palpos de aranha se tivesse de executar os movimentos que ensinou tanto a Nadia Comaneci da Romênia quanto a Mary Lou Retton dos Estados Unidos.

Se você quiser conhecer o professor, olhe para os alunos. Eles são a sua obra de arte. Se for possível, assista a uma aula antes de escolher o mestre. Concentre a atenção nos alunos. E o que mais ainda, na interação. O instrutor elogia ou xinga? Há uma marca registrada do professor, muitas vezes celebrada no mito, quando não na realidade, que é famosa por fazer um mínimo de elogios. Quando essa tática de ensino funciona, funciona através de um princípio de economia, pois o elogia se torna mercadoria tão escassa que uma simples e relutante inclinação de cabeça é tomada por altamente recompensadora. O que não funciona, apesar de certa atitude machista em contrário, é o escárnio, a descompostura, a humilhação – qualquer coisa que destrua a confiança e a auto-estima do aluno. Até o professor avaro de louvores precisa, de algum modo, mostrar respeito pelo aluno se quiser obter resultados positivos a longo prazo. O melhor professor, geralmente, se esforça por assinalar o que o aluno está fazendo certo pelo menos com a mesma freqüência com que mostra o que ele faz errado. Foi exatamente o que o treinador da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, John Wooden, talvez o maiôs instrutor de basquete de todos os tempos, conseguiu realizar durante sua longa carreira vitoriosa. Verificou-se que Wooden mantinha aproximadamente uma relação de cinqüenta por cento entre esforço e a correção, com um entusiasmo excepcional em ambos os lados da equação.

Olhe de novo para os alunos, para a interação. Os mais talentosos, os mais adiantados levam todos os doces? E os desajeitados, os principiantes? Pode ser que você esteja procurando o tipo de instrutor que só se dá bem com os melhores, com os campeões em potencial. Existem professores assim, e eles exercem uma função útil, mas, para mim, a essência da arte do instrutor reside na capacidade de trabalhar com eficiência e entusiasmo com os principiantes e de servir de guia no caminho da mestria para aqueles que são menos rápidos e talentosos do que a norma. Esse serviço pode ser arrolado sob epígrafe de altruísmo, mas é mais do que isso. Pois participar dos vacilantes primeiros movimentos, tanto físicos como mentais, de quem está aprendendo uma nova prática é penetrar a estrutura íntima não só dessa prática mas também do próprio processo da maestria. O conhecimento, a perícia, a habilidade técnica e as credenciais são importantes, mas sem a paciência e a empatia essenciais ao ensino de principiantes, tais méritos não têm valor nenhum.


Continua...

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