Todo mundo fala, para dizer qualquer coisa, e esse mundo vai crescendo
BusinessWeek - 23/07/2009
No fim de janeiro de 2001, nas profundezas do colapso "dotcom", uma empresa recém-criada em São Francisco, denominada Pyra Labs, viu-se sem capital. Seu pessoal debandou. Cofundador da companhia, o jovem Evan Williams conseguiu reunir US$ 40 mil em financiamento adicional e levou os servidores da Pyra para seu apartamento. Isso permitiu que os 100 mil clientes registrados (e o número se mantinha crescente) continuassem a usar o Blogger, serviço da empresa que permitia aos usuários publicar seus diários online - os blogs.
Um ano mais tarde, o Blogger tinha 700 mil assinantes. Seja compartilhando receitas de biscoitos ou comentando relatórios sobre envio de armamentos ao Iraque, essas pessoas estavam construindo uma importante nova forma de mídia de massa. A blogosfera virou o mundo editorial tradicional de cabeça para baixo, permitindo que qualquer um, com um computador e um modem (ou mesmo um telefone inteligente) pudesse, gratuitamente, falar a uma plateia mundial. Em 2003, Williams vendeu sua empresa para o Google, recebendo em pagamento uma lucrativa pilha de ações pré-abertura de capital. Três anos mais tarde, ele e seus parceiros lançaram mais uma ferramenta editorial para um público mundial: o Twitter - hoje o fenômeno do microblogging.
A história de Williams é apenas um dos fios na trama da narrativa de "Say Everything", relato de Scott Rosenberg sobre a revolução do blogging. Rosenberg, co-fundador da revista online "Salon.com", descreve um capítulo notável na história da comunicação. Nesta altura dos acontecimentos, é difícil para algumas pessoas recordar que, mesmo no fim da década de 1990, a maioria dos usuários considerava as páginas da Web como coisas a serem lidas, e não como lugares para postar e publicar. É uma história importante, que leva não apenas ao YouTube, Facebook e Wikipedia, mas também à transformação nas comunicações empresariais e governamentais. Rosenberg escreve com elegância e parece ter pesquisado seu tema exaustivamente. Seu livro pode ser um pouco pesado em detalhes, históricos e técnicos, para um público de interesse geral. Mas muitos blogueiros certamente vão curtir a história do drama em que mergulharam.
Será que os blogs poderiam virar um negócio? Empreendedores como Nick Denton, ex-jornalista do "Financial Times", tomariam a dianteira. Denton contratou jornalistas para postarem textos em sites como o Gawker, para fãs de fofocas, e o blog Gizmodo, de comentários sobre dispositivos tecnológicos. Ele estabeleceu um modelo primordial: fortes doses de atitude, postagem frequente, foco intenso - e preços realmente baixos. Depois veio o rival Jason Calacanis, que lançou a rede de blogs Weblogs, atraindo algumas das estrelas de Denton oferecendo-lhes participação acionária. Em 2005, entra em cena Arianna Huffington com outro modelo: convence blogueiros a trabalhar de graça - enquanto fortalecem seus "nomes-marcas" - como articulistas em seu popular Huffington Post.
As guerras entre blogs são material de leitura divertida. O impacto para a sociedade provém do fluxo de relatos de testemunhas oculares e de opiniões que trafegam nas páginas da Web. À medida que clientes e funcionários blogam, as empresas perdem qualquer esperança de controlar notícias, como no passado, e tentam, em vez disso, influenciar os blogs. E como vemos nas ruas do Irã, vozes iradas trafegam pelo mundo e constroem suas próprias narrativas convincentes, mesmo quando ditadores censuram a imprensa.
É fácil citar blogs idiotas ou triviais para desqualificá-los no todo. Mas à medida que mais e mais pessoas vêm somar suas vozes a cada dia que passa, escreve Rosenberg, "dizer que 'noventa por cento dos blogs são lixo' começa a soar semelhante a dizer que 'noventa por cento das pessoas só dizem besteiras' ''.
Rosenberg cita um major do exército americano, Andrew Olmsted, que deixou um registro para ser postado após sua morte, que aconteceu no Iraque, em janeiro de 2008. "A possibilidade de colocar meus pensamentos em papel (virtual) e de colocá-los onde as pessoas possam lê-los e reagir a eles tem sido algo maravilhoso", escreveu Olmsted, "mesmo se a maioria das pessoas não concorda com eles". Graças à tecnologia e à mídia que Rosenberg descreve, todos nós temos esse mesmo maravilhoso poder de falar ao resto do mundo. É surpreendente como as mudanças aconteceram tão rápido.
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