18.12.06

Reaprendendo a Competir 1

Um dos grandes desafios de cada corporação é definir quando se deve mudar a sua estratégia. As vezes, fenômenos globais como o terceirização de produção em países com menores custos (Índia, China, Brasil entre outros), afeta tanto o segmento como até mesmo países inteiros. Para exemplificar esta idéia, reproduzo aqui neste blog, hoje e amanhã, dois ótimo textos elaborados pelo Financial Times e publicados pelo jornal Folha de São Paulo no dia 17/12/2006.

Mais do que ações governamentais, os países, através da iniciativa privada, estão adotando novas estratégias para conquistarem um espaço maior no mundo globalizado.

Indústrias de países ricos reaprendem a competir

Folha de São Paulo – 17/12/2006 (Peter Marsh do Financial Times)

Se as previsões dos pessimistas merecem crédito, virtualmente toda a produção do mundo está se transferindo para países de baixo custo como a China, em um processo que tornará as fábricas nos países ricos tão raras quanto gramofones ou casacas.

Mas a realidade é diferente. É certo que, ao longo dos últimos dez anos, muitas empresas transferiram parcela considerável de sua produção para países menos desenvolvidos, mas a Europa Ocidental, a América do Norte e o Japão continuarão respondendo neste ano por cerca de 75% da produção industrial do planeta.

A fatia da China no bolo da manufatura é de cerca de 9%, se bem que isso represente considerável crescimento ante os 4% de participação que o país detinha uma década atrás.

Além disso, uma extensa série de entrevistas conduzidas pelo "Financial Times" constatou que os principais executivos de muitas empresas do setor industrial demonstram notável otimismo quanto à sua capacidade de operar fábricas de maneira econômica nos países de custos mais elevados, muitas vezes em arranjos que incluem também operações de produção em regiões de menor custo.

Está se tornando cada vez mais claro que ampla gama de fábricas dos países de salários mais altos está aproveitando os fatores positivos que eles oferecem a fim de compensar a carga de custos mais elevada. Entre os fatores estão a capacidade de desenvolver produtos usando tecnologias sofisticadas e a de fabricar bens altamente "configurados", adaptados de maneira precisa às necessidades dos consumidores locais.

"Cada vez mais empresas do setor industrial estão começando a perceber que transferir toda a produção para a China não representa uma panacéia", diz Bob Sternfels, especialista em produção industrial da consultoria McKinsey.

Um panorama econômico em termos gerais benigno como resultado das melhoras na economia da Europa e do Japão, bem como do firme crescimento de nações emergentes como China e Índia, oferece uma plataforma firme para reforçar o papel da indústria nos países ricos.

"Minha impressão é que muitas empresas sediadas em regiões de custos elevados mais ou menos chegaram ao limite que pretendiam atingir em termos de transferência, em razão dos custos, de empregos à China e outras economias emergentes", diz David Hensley, diretor de coordenação econômica mundial do banco de investimento JP Morgan.

"O bolo a ser dividido [em termos de demanda por bens manufaturados] cresceu, o que deixa espaço para produção tanto em países de alto custo como nos de baixo", afirma.

Depois de uma recessão no setor industrial em 2001, quando a produção das fábricas mundiais caiu 2,5%, o crescimento médio da produção industrial mundial vem sendo de 3,6% ao ano desde 2002.

Como parte desse processo, muitas empresas industriais operando em regiões de salários elevados começam a demonstrar claros sinais de vida, ainda que os lucros de muitas delas continuem relativamente baixos. Existe também uma sensação entre as empresas dessas regiões do mundo de que investir no mercado de origem pode representar desgaste para sua posição financeira.

Mas recentemente os grupos industriais começaram a explorar uma via intermediária. No setor siderúrgico, por exemplo, a corrida que domina o mercado atualmente não envolve adquirir capacidade de produção em países em desenvolvimento que ofereçam baixos custos, mas sim um esforço dos produtores de baixo custo para adquirir usinas sofisticadas na Europa e nos EUA, capazes de fazer produtos especializados e de alto valor agregado.

A tendência começou a se afirmar de maneira mais vigorosa com a tomada de controle da Arcelor, que tem sede em Luxemburgo, pela indiana Mittal Steel, em uma transação avaliada em US$ 35,5 bilhões.

No mês passado, o grupo Evraz, segundo maior do setor siderúrgico russo, pagou US$ 2,3 bilhões pela americana Oregon Steel, que atende a um nicho específico de mercado com produtos dirigidos a setores como ferrovias e construção civil.

A disputa entre a também indiana Tata Steel e a CSN, do Brasil, pelo controle do grupo siderúrgico anglo-holandês Corus se enquadra na mesma categoria. A oferta de US$ 9,6 bilhões apresentada na semana passada pela companhia brasileira conquistou o apoio do conselho da Corus, que só tem usinas instaladas em países de alto custo e se orgulha das conexões que mantêm com os setores automobilístico e de construção civil.

No caso da Mittal, o aço barato e semiprocessado feito em países de baixo custo é enviado a usinas mais sofisticadas para conversão em produtos de ponta como aço para revestimento resistente à corrosão, usado pela indústria automobilística.

Uma variação do tema é que uma fábrica instalada em país de alto custo empregue unidades de produção instaladas em outros locais, quer geridas pela empresa, quer por fornecedores terceirizados, como fonte de componentes. Dessa maneira, os preços dos componentes ocasionalmente podem ser reduzidos em entre 30% e 50% em relação ao seu custo caso casso fossem produzidos no país de origem da empresa.

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