Resgatei nos meus históricos um texto sobre conflitos. Já que administrar na maioria do tempo é resolver conflitos, acho pertinente a publicação desse artigo simples mas interessante. Espero que o apreciem.
Não colecione conflitos
Por Simon Franco* - Fonte: Desconhecida
Os conflitos entre profissionais dentro de uma organização tornam-se, com muita freqüência, problemas pessoais. A relação azeda e todos perdem com isso: os envolvidos, os colegas da equipe e a própria empresa. Muitas vezes, é difícil saber como as pessoas viram quase inimigas. Parece não haver um fato determinante, mas uma soma de coisas pequenas e pouco importantes que acabam se resumindo num peremptório "não vou com a cara dele".
Para crescer na organização e na vida profissional, é aconselhável não colecionar conflitos desse tipo nem se tornar um encrenqueiro. Obviamente, disputas e diferenças profissionais existem. Mas elas devem se resolver no campo do profissionalismo, sem virar tensão permanente. Uma metáfora criada pelo Arbinger Institute, no livro Leadership and Self-Deception (Liderança e Auto-Engano), pode ajudar a entender esses conflitos. É a metáfora da balança das relações.
O "encrenqueiro" sempre apresenta argumentação lógica em favor de sua posição e contra os outros. Isso acontece por causa de um mecanismo de autojustificação que pode cegar o bom senso. Será que você já não foi vítima desse mecanismo? Veja como ele funciona e pense em suas próprias atitudes.
Considere um casal que, às 2 da manhã, ouve o filho chorar. O homem pensa: "Trabalhei o dia inteiro, estou cansado e cheio de problemas. Não vou levantar. Minha mulher certamente vai fazer isso". A mulher também não se levanta, pois pensa: "Trabalhei o dia inteiro, estou cansada e tenho que cuidar de tudo nesta casa. Meu marido vai se tocar". Resultado: a situação acaba em briga.
Cada um coloca todas as avaliações positivas sobre si mesmo num prato da balança da relação. No outro prato, ficam os atributos negativos do outro. Trata-se de um mecanismo quase natural de encontrar todas as justificativas possíveis para as próprias ações e negar justificação para as ações alheias. Isso vira uma espiral que vai engolindo a relação. Todos têm a sua razão, mas ninguém tem razão. E aí, por qualquer motivo, todas as razões de um lado e de outro da balança entram em ação, pois a mágoa e a incompreensão têm um terrível poder cumulativo.
Transporte essa metáfora para a vida profissional. Eu sempre posso encontrar motivos para justificar as coisas que faço ou deixo de fazer e motivos para criticar coisas que os outros fizeram ou deixaram de fazer. São motivos que fazem sentido para mim e que são suficientes para me deixar convicto de que estou certo. Certo e encrencado.
Essa é a gênese do encrenqueiro e a razão pela qual as pessoas mais tranqüilas do mundo podem, em determinados períodos da vida, ficar impossíveis. Todos nós estamos sujeitos à dinâmica da autojustificação.
O risco de ser vítima dela e de se tornar irascível é ainda maior para quem ocupa posição de chefia. Um chefe tende a acreditar que sua posição é garantia do acerto de suas opiniões e justificativas. Pode, com isso, tornar-se insuportável e perder a chance de ser um genuíno líder -- afinal, o líder é aquele que pensa com a cabeça de todos.
Pense nisso da próxima vez que for começar uma discussão qualquer. Pense um pouco com a cabeça dos outros, coloque honestamente em dúvida tudo o que pode justificar sua própria posição. O resultado, no mínimo, será uma vida menos estressante e um ambiente de trabalho mais produtivo para todos.
*Simon Franco é presidente da TMP Worldwide para a América Latina e autor de Criando o Próprio Futuro e O Profissionauta.
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