11.7.07

Inovação não é perene


Segue abaixo texto conciso e claro do Clemente Nóbrega. O que me chama atenção nos dias de hoje, e autor coloca muito bem no texto, é a volatilidade da inovação.

Nenhuma inovação é perene. Ela dura até os concorrentes conseguirem copiá-lo ou supera-lo. Hoje se fala muito como o Cirque du Solei reinventou o circo adotando um modelo de negócio diferente que propiciou uma vantagem competitiva muito forte. Quanto tempo esses diferenciais durarão? Depende da concorrência. Com o avanço tecnológico, quem sabe surge uma outra empresa promovendo espetáculos que misturem teatro, música, plástica (igual ao Cirque du Solei) juntamente com realidade virtual?

Na verdade não sabemos quando isso vai ocorrer. O que tenho certeza é que o Cirque du Solei deve aproveitar esse momento de sucesso de público, e principalmente financeiro, para reiventar seu negócio antes que um outro o faça.

Vale a pena pensar sobre isso.

Realmente, inovação não dá vantagem sustentável. E daí?
Artigo publicado na Revista Época Negócios – Nº 4 – Junho 2007 – Coluna INOVAÇÃO.

Me alertam que o Wal Mart anda meio caído hoje (crise da meia idade, dizem). A Dell também tem vacilado (perdeu a liderança mundial para a HP). Então, como fica esse papo de vantagem competitiva via inovação operacional, da qual ambas têm sido ícones nas últimas décadas? Fica onde está: no topo das prioridades de quem quer inovar. Inovação gera dinheiro novo, não dinheiro eterno. Sendo “infinita enquanto durar” já está ótimo. Pergunte a quem comprou ações do Wal Mart nos anos 60.

Não existe vantagem competitiva sustentável. Demorou 25 anos para entendermos isso, mas hoje sabemos: empresas não inovam, o mercado é que inova. Os indivíduos em uma certa população não evoluem, o que evolui é a população. A GE evoluiu como corporação, mas as unidades de negócio que a compõe, não; foram continuamente substituídas por outras ao longo do tempo. É essa entrada de novos formatos de negócio no mercado que gera riqueza, não a melhoria dos formatos ancestrais.

Os avós de nossos avós compravam artigos de primeira necessidade numa vendinha, um tipo de comércio que foi substituído pelo empório, depois por armazéns de secos e molhados, depois por cadeias de armazéns com “marca”, por supermercados com atendimento de balcão em seguida, auto-serviço mais tarde, até os hipermercados de hoje. Todos esses formatos (e outros, como lojas de departamento e vendas por catálogos) foram viabilizados por tecnologias então novas. As vendas por catálogo, por exemplo, foram viabilizadas pelo telégrafo, a estrada de ferro e o correio. A elite rural recebia os famosos catálogos da Sears, encomendava suas mercadorias pelo correio e elas chegavam de trem. Tecnologias co-evoluindo é que geram riqueza. A Sears foi a maior máquina de marketing da primeira metade do século XX. Alguém ainda houve falar dela? Você pode jurar que o Google ou a Apple, as feras inovadoras de hoje, não manterão esse pique amanhã. “Amanhã” pode ser 10 ou 50 anos, mas que vai acabar vai. A dinâmica dos mercados garante isso - uma espécie de “lei de Newton” do mundo da inovação. Já tem gente resmungando que o iPhone da já está condenado. Pode nascer morto, diz a “The Economist”. Seu excepcional design não vai compensar o preço alto e a tecnologia wireless ultrapassada. Quem vai vencer é o “Ocean”, produto de uma empresa chamada Helio, da qual você nunca ouviu falar. Custará metade do preço do iPhone; design bacaninha, mas não espetacular, e tecnologia wireless muito melhor. Se acontecer, o iPhone será uma inovação que foi sem nunca ter sido.

As empresas vivem dominadas pela tensão entre o hoje e o amanhã - “invisto meus recursos (sempre escassos) na execução do hoje, ou no preparo do crescimento de amanhã?”. No mundo dos negócios, chamam isso de dilema “exploit - explore”. Eduardo Gianetti identificaria aqui outro aspecto daquilo que chamou de “problema das escolhas intertemporais” em seu livro “O Valor do Amanhã”. É um tema vital para pessoas e para empresas. No mundo corporativo, é o mal gerenciamento dessa “coisa” que está por trás de todas as histórias de colapso. Heróis de hoje irrelevantes ou mortos amanhã.

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