Fonte: Site Época Negócios
Por:Jean-Pierre Lehman*
Em um mundo extremamente volátil como o nosso, a ocorrência de eventos de tipos diversos e aparentemente improváveis são sempre iminentes. Contudo, é impossível prever onde, quando e como sobrevirão. De que maneira, então, as empresas podem se preparar para enfrentá-los? Uma possibilidade seria adotar uma visão menos simplista e linear do mundo, tendo sempre em mente os cenários mais extremos que, na teoria do risco, são conhecidos como “Cisnes Negros”. Nesse tipo de cenário, pode-se posicionar estrategicamente a empresa para lidar de modo mais eficaz com os efeitos de eventos improváveis.
Em seu livro “O cisne negro”, Nassim Taleb, especialista em riscos e finanças, debruçou-se principalmente sobre os problemas da incerteza e do conhecimento, ampliando o conceito e a experiência do cisne negro e conferindo ao fenômeno três atributos: (1) deve ser algo estranho, totalmente inesperado e fora do âmbito das expectativas normais; (2) deve provocar um impacto tremendo; e (3) deve ser algo passível de explicação e que deve parecer lógico depois de ocorrido, isto é, perfeitamente compreensível quando analisado retrospectivamente.
Entre os exemplos de cisnes negros ao longo da história há eventos cataclísmicos como o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do império austro-húngaro, e de sua esposa, Sofia, em 28 de junho de 1914, pelo nacionalista sérvio Gavrilo Princip, em Sarajevo. Esse foi o estopim da Primeira Guerra Mundial — a guerra mais brutal que a humanidade já viu. Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 são exemplo de um cisne negro mais contemporâneo.
O fenômeno do cisne negro não é de modo algum arauto de tragédias. O colapso do muro de Berlim foi um fenômeno desse tipo, assim como a decisão do líder comunista chinês Deng Xiaoping de “abraçar a globalização” no final dos anos 1970. A China, que nem sequer aparecia na tela do radar dos negócios internacionais, é hoje a terceira maior potência comercial do mundo (depois da Alemanha, dos EUA e à frente do Japão).
A Arla em apuros
Em 2006, a Arla Foods, companhia holandesa de laticínios, topou com seu cisne negro no Oriente Médio, onde teve prejuízos de mais de 55 milhões de euros depois que um importante jornal dinamarquês veiculou charges que foram consideradas ofensivas aos muçulmanos.
Lições do caso Arla e outras recomendações
Que lições os executivos das empresas podem aprender com a experiência da Arla e com a síndrome do cisne negro em geral?
A principal delas, sem dúvida alguma, é que não havia como a Arla prever, muito menos evitar, o que aconteceu. Apesar disso, tanto no caso da Arla quanto no de qualquer outra empresa, a primeira lição, evidentemente, é que vivemos em um mundo extremamente volátil, especialmente em razão da velocidade alucinante com que a informação (e a desinformação) viaja.
É claro que os futuros mercados, lucros e recursos encontram-se nos países em desenvolvimento, e isso por razões demográficas e econômicas. Portanto, não há outra alternativa a não ser fazer negócios ali, porém os riscos não podem ser ignorados. Um deles é a excessiva confiança em uma região específica. A lição que a Arla aprendeu foi que deveria diversificar suas operações em regiões geográficas diferentes, pulverizando o risco político.
Uma vez que nenhuma das previsões, ou muito poucas, feitas nas últimas três décadas do último milênio nem de longe se tornaram realidade nos anos 2000, segue-se que outra lição importante é que no momento de se avaliarem futuras perspectivas (que são fundamentais para a estratégia), gráficos elaborados por bancos e consultorias que se propõem a determinar o tamanho do PIB, participações globais do produto interno bruto, tamanho da classe média etc. no decorrer de várias décadas, o mínimo que se requer é que tudo isso seja tratado com muita cautela.
A chave está no pensamento lateral e holístico
Para tentar entender o mundo em que vivemos, é fundamental recorrer ao pensamento lateral e holístico. Ao avaliar as principais forças de qualquer país ou região, sobretudo no mundo em desenvolvimento, é imprescindível que sejam avaliados em conjunto os dados demográficos, as questões ambientais, o consumo de energia, a infra-estrutura política, os movimentos sociais e as ideologias. Além disso, deve-se levar em conta não só o PIB médio per capita (que pode induzir a erro), mas também a distribuição de renda (como instrumento básico de mensuração da desigualdade). Outros indicadores críticos: nível de bem-estar público medido pela presença de escolas, assistência à saúde, condição da mulher, existência de minorias e de tratamento adequado concedido a elas, padrões de imigração, participação da pesquisa e desenvolvimento nos gastos públicos, classificação do país em diferentes índices, inclusive nos que medem o grau de corrupção e de abertura aos negócios.
Para que se tenha um entendimento mais aprofundado do que acontece na maior parte do mundo hoje em dia, e para que haja uma convergência em direção ao pensamento lateral e holístico, há um corpus literário cada vez mais sofisticado que complementa a visão panorâmica desse quadro com uma visão de natureza mais terrestre.
Curiosidade intelectual: elemento obrigatório
Isto, por sua vez, nos remete a outro requisito. Para entender as forças e as tendências do ambiente global e dos diversos países e regiões do mundo, principalmente os mais voláteis, nada substitui a leitura de livros.
Ler livros, cultivar a curiosidade e a modéstia intelectuais, desenvolver o pensamento lateral e holístico, dialogar com um círculo maior de pessoas de profissões e posições variadas eaprender com elas não fará com que empresa seja capaz de prever o futuro, tampouco pressentir a iminência de um cisne negro antes que ele chegue. Contudo, se fizer todas essas coisas estará muito mais preparada, sob diversos aspectos, para detectar as emboscadas armadas pelo cisne negro.
Se quisermos competir e ser bem-sucedidos em uma atividade atlética, temos de nos exercitar. Assim também temos de exercitar nosso cérebro, nossa imaginação e capacidade analítica se quisermos ser bem-sucedidos nas disputas travadas no mercado global do século 21 — extremamente desafiador, sim, mas igualmente empolgante.
Em seu livro “O cisne negro”, Nassim Taleb, especialista em riscos e finanças, debruçou-se principalmente sobre os problemas da incerteza e do conhecimento, ampliando o conceito e a experiência do cisne negro e conferindo ao fenômeno três atributos: (1) deve ser algo estranho, totalmente inesperado e fora do âmbito das expectativas normais; (2) deve provocar um impacto tremendo; e (3) deve ser algo passível de explicação e que deve parecer lógico depois de ocorrido, isto é, perfeitamente compreensível quando analisado retrospectivamente.
Entre os exemplos de cisnes negros ao longo da história há eventos cataclísmicos como o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do império austro-húngaro, e de sua esposa, Sofia, em 28 de junho de 1914, pelo nacionalista sérvio Gavrilo Princip, em Sarajevo. Esse foi o estopim da Primeira Guerra Mundial — a guerra mais brutal que a humanidade já viu. Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 são exemplo de um cisne negro mais contemporâneo.
O fenômeno do cisne negro não é de modo algum arauto de tragédias. O colapso do muro de Berlim foi um fenômeno desse tipo, assim como a decisão do líder comunista chinês Deng Xiaoping de “abraçar a globalização” no final dos anos 1970. A China, que nem sequer aparecia na tela do radar dos negócios internacionais, é hoje a terceira maior potência comercial do mundo (depois da Alemanha, dos EUA e à frente do Japão).
A Arla em apuros
Em 2006, a Arla Foods, companhia holandesa de laticínios, topou com seu cisne negro no Oriente Médio, onde teve prejuízos de mais de 55 milhões de euros depois que um importante jornal dinamarquês veiculou charges que foram consideradas ofensivas aos muçulmanos.
Lições do caso Arla e outras recomendações
Que lições os executivos das empresas podem aprender com a experiência da Arla e com a síndrome do cisne negro em geral?
A principal delas, sem dúvida alguma, é que não havia como a Arla prever, muito menos evitar, o que aconteceu. Apesar disso, tanto no caso da Arla quanto no de qualquer outra empresa, a primeira lição, evidentemente, é que vivemos em um mundo extremamente volátil, especialmente em razão da velocidade alucinante com que a informação (e a desinformação) viaja.
É claro que os futuros mercados, lucros e recursos encontram-se nos países em desenvolvimento, e isso por razões demográficas e econômicas. Portanto, não há outra alternativa a não ser fazer negócios ali, porém os riscos não podem ser ignorados. Um deles é a excessiva confiança em uma região específica. A lição que a Arla aprendeu foi que deveria diversificar suas operações em regiões geográficas diferentes, pulverizando o risco político.
Uma vez que nenhuma das previsões, ou muito poucas, feitas nas últimas três décadas do último milênio nem de longe se tornaram realidade nos anos 2000, segue-se que outra lição importante é que no momento de se avaliarem futuras perspectivas (que são fundamentais para a estratégia), gráficos elaborados por bancos e consultorias que se propõem a determinar o tamanho do PIB, participações globais do produto interno bruto, tamanho da classe média etc. no decorrer de várias décadas, o mínimo que se requer é que tudo isso seja tratado com muita cautela.
A chave está no pensamento lateral e holístico
Para tentar entender o mundo em que vivemos, é fundamental recorrer ao pensamento lateral e holístico. Ao avaliar as principais forças de qualquer país ou região, sobretudo no mundo em desenvolvimento, é imprescindível que sejam avaliados em conjunto os dados demográficos, as questões ambientais, o consumo de energia, a infra-estrutura política, os movimentos sociais e as ideologias. Além disso, deve-se levar em conta não só o PIB médio per capita (que pode induzir a erro), mas também a distribuição de renda (como instrumento básico de mensuração da desigualdade). Outros indicadores críticos: nível de bem-estar público medido pela presença de escolas, assistência à saúde, condição da mulher, existência de minorias e de tratamento adequado concedido a elas, padrões de imigração, participação da pesquisa e desenvolvimento nos gastos públicos, classificação do país em diferentes índices, inclusive nos que medem o grau de corrupção e de abertura aos negócios.
Para que se tenha um entendimento mais aprofundado do que acontece na maior parte do mundo hoje em dia, e para que haja uma convergência em direção ao pensamento lateral e holístico, há um corpus literário cada vez mais sofisticado que complementa a visão panorâmica desse quadro com uma visão de natureza mais terrestre.
Curiosidade intelectual: elemento obrigatório
Isto, por sua vez, nos remete a outro requisito. Para entender as forças e as tendências do ambiente global e dos diversos países e regiões do mundo, principalmente os mais voláteis, nada substitui a leitura de livros.
Ler livros, cultivar a curiosidade e a modéstia intelectuais, desenvolver o pensamento lateral e holístico, dialogar com um círculo maior de pessoas de profissões e posições variadas eaprender com elas não fará com que empresa seja capaz de prever o futuro, tampouco pressentir a iminência de um cisne negro antes que ele chegue. Contudo, se fizer todas essas coisas estará muito mais preparada, sob diversos aspectos, para detectar as emboscadas armadas pelo cisne negro.
Se quisermos competir e ser bem-sucedidos em uma atividade atlética, temos de nos exercitar. Assim também temos de exercitar nosso cérebro, nossa imaginação e capacidade analítica se quisermos ser bem-sucedidos nas disputas travadas no mercado global do século 21 — extremamente desafiador, sim, mas igualmente empolgante.
*Jean-Pierre Lehman é do IMD (International Institute for Management Development), instituto suíço de educação para executivos.
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