19.12.06

Reaprendendo a Competir 2

Sistemas que usam o melhor de cada local ganham espaço

Folha de São Paulo – 17/12/2006 (Do Financial Times)

É provável que sistemas híbridos, unindo as vantagens competitivas de países de custos mais baixos com as dos países mais desenvolvidos, se tornem mais comuns, oferecendo oportunidades a indústrias instaladas em nações de alto custo.

É essa, por exemplo, a estratégia da Invacare, dos EUA, a maior fabricante mundial de cadeiras de rodas. A maior parte de suas cadeiras são feitas por pedidos personalizados vindos de países de altos salários, os mesmos que abrigam a maioria de seus consumidores.

As aquisições de componentes da Invacare em países de custos mais baixos somarão US$ 200 milhões neste ano, ou dez vezes o nível registrado cinco anos atrás, e em 2011 o valor deve atingir US$ 400 milhões.

Quando o modelo híbrido é adotado como estrutura interna de uma empresa, a combinação dos dois conjuntos de fábricas é realizada por meio de transferências de know-how e design, com as fábricas instaladas nos países ricos -conhecidas como fábricas-mães- explorando o nível de tecnologia mais alto de que desfrutam e, em geral, tomando a liderança nesses relacionamentos.

Um exemplo é a Danfoss, produtora dinamarquesa de válvulas para aquecimento. "Nossas fábricas na Dinamarca se concentram em válvulas "padrão Mercedes", que representam os nossos produtos mais sofisticados e de preços mais altos. Na China fabricamos produtos mais baratos, vendidos principalmente no mercado local", diz Jorgen Clausen, presidente-executivo do grupo.

Ele acrescenta que, devido à alta eficiência da produção da empresa na Dinamarca, ela foi capaz de elevar o volume produzido em seu país de origem e manter seu quadro de 6.200 funcionários ao longo dos últimos dez anos, enquanto abria fábricas na China, que hoje empregam 1.700 trabalhadores.

Outras empresas, como a japonesa Komatsu, fabricante de equipamento para construção, e a Whirlpool (EUA), que produz eletrodomésticos, desenvolveram sistema semelhante ao da Danfoss, com fábricas-mães nos países de alto custo cujo papel é funcionar como mentoras em termos de tecnologia e projetos para as unidades de produção instaladas em outros locais.

Mas o fluxo de idéias também pode funcionar em sentido reverso, com as fábricas dos países de alto custo aprendendo com as atividades das nações de custos mais baixos.

A Timken, fabricante americana de mancais e rolamentos de esfera, está transferindo às suas fábricas nos EUA e na Europa Ocidental técnicas de usinagem desenvolvidas por engenheiros que trabalham na Índia. Já a Electrolux, fabricante sueca de eletrodomésticos, está introduzindo na Europa modelos de refrigeradores desenvolvidos por seus projetistas no Brasil.

Em muitos casos, as empresas constatam que a posição competitiva de suas fábricas em países de altos salários conta com certa proteção nas áreas de tecnologia ou design mais sofisticados, nas quais as capacidades dos rivais instalados em países de baixo custo ainda não representam ameaça.
Graham Honeyman, presidente-executivo da Sheffield Forgemasters International, produtora britânica de peças metálicas especiais para setores como a geração de energia, diz que suas exportações à China responderão por 30% do faturamento de 100 milhões de libras do grupo em 2006/7, ante apenas 5% três anos atrás.

"Porque estamos trabalhando no limite de nossa capacidade, temos recusado pedidos vindos da China", diz Honeyman. "Ao que parece, os produtos que podemos prover hoje de nossa fábrica no Reino Unido estão adiante, tecnologicamente, de qualquer coisa que a China seja capaz de fabricar."

Muitos grupos consideram que suas fábricas em países de alto custo são valiosas não apenas como produtoras de bens destinados a vendas para consumidores finais. Elas podem também, ocasionalmente, desempenhar um papel na produção de componentes de alta tecnologia a serem usados pelas fábricas de baixo custo da empresa, que operam com nível de tecnologia mais baixo.

Com as fábricas em países de alto custo agindo como "alimentadoras" das operações em países de baixo custo, a maneira convencional pela qual o modelo híbrido trabalha com movimento de componentes dos países de baixo para os de alto salário, por motivos de custo, é revertida.

Um exemplo dessa tendência é a ABB, grupo de mecânica pesada suíço-sueco. A empresa tem fábricas na Europa Ocidental que produzem os chamados componentes "nobres", como tubos de vácuo -especializados para uso em sistemas de transmissão de eletricidade-, e os fornecem a outras unidades de produção instaladas em países como China e Índia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Viva a Globalização !!!
Vamos valorizar os paises em desenvolvimento!!!

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